8 de maio de 2009

ainda somos


-Sua boca está derrentendo.
-Que?
-Sua boca, tá esquisita.
-Ah me desculpe, por favor me desculpe.
Um pouco envergonhado ele pegou um lenço xadrez do bolso e retirou o sangue e a gosma que escorriam. Eu preferia estar esparramada no sofá eu acho, mas aquela conversa estava tão estranha- talvez vazia, e quem sabe meses depois eu lembraria dela bebendo sozinha. Falava falava falava. Seus olhos mudavam de cor junto à luz do poste. E seu rosto assim como o meu estava cheio de manchas pretas, era o reflexo chuvoso no vidro do carro. Elas se movimentavam a todo o segundo, parecia uma animação tosca, me fazia bem, e lá ao fundo sua voz me dava um sono... dormência sono prazer, era a primeira vez que um homem de fato me proporcionava something deep.
Eu sentia frio e como por telepatia você me abraçava, seu cheiro percorria um caminho de quatro segundos no meu corpo e eu te beijava. eu gosto muito de beijar seu olho. –É beijo de borboleta, assim ó- encostando os cilhos na minha bochecha. E eu te percorria com minha boca, meus dentes.Você mudava de cor.
-Are you with me? –Just when you sleep.

26 de agosto de 2008

Dia de Facas

Hoje saí para trabalhar, em um dia comum, com a minha roupa comum, com a minha vidinha comum e com uma tristeza inebriante. Desapego, você vive se repetindo isso: desapego. É o que mais se lê em revistas e jornais agora, de repente ser desapegado e preservar o meio-ambiente virou moda.
Entrei no carro, coloquei o cinto e abri a janela como de costume.Começaram.Eram facas de todos os tipos por todos os lugares. Facas caindo, facas grudadas ao carro, facas fazendo sangrar uma cidade que já estava doente nas veias.Fria, com automóveis e gente gelada.
Algumas pessoas tinham uma espécie de campo magnético em que as facas chegavam, bem frente à frente mas caiam. Em outras pessoas, como eu, as facas entravam.Várias delas batiam no meu vidro, faziam um barulho agonizante. Pensei: Putz,a janela. Tarde demais, muitas delas já estavam no meu pescoço, cabeça, peito, ouvidos. O sangue que descia era quente,o que entupiu meus ouvidos e eu fiquei meio surda.Pelo menos agora eu seria poupada dos gritos falsos que ecoavam lá de fora. Fechei a janela. Parei o carro no acostamento. Desliguei a música. Procurei meu celular.Não sei porquê deuses pensamos que o celular vai conseguir ajudar em algo. Por alguns instantes, pensei em ficar dentro do carro, esperando acabar as facas no ar. As facas no ar. Eu nunca pensei que raciocinaria desse jeito. Peguei o retrovisor interno e o virei para mim. Meus dentes, meu olho, tudo vermelho, um sangue bem ralo. Desses que escorrem como esgotos em dia de chuva seca.Fui me acostumando com o que estava acontecendo,retomando um pouco de insanidade.E até pensei: é candaguinhos, um pouquinho de muito desespero serve para os acordar do marasmo hipócrita do dia-a-dia.
Acho que nem facas conseguem abalar certos homens, pois alguns olhavam e continuavam a atravessar a rua normalmelnte, me arrisco a dizer que carregavam um pesado sorriso irônico no olhar.
O mais estranho é que eu não sentia nada.Meu Deus, Meu Deus. Alguns anos nessa cidade de carne osso e concreto fizerqm com que eu me tornasse um deles.
Respirei fundo. Vou sair do carro. Foda-se.

18 de julho de 2008

Minha pequena
Sinto que hoje te reencontrei. Eu sai como qualquer dia comum, minha dor de garganta incomodava e o vento gelado de Brasília congelava a ponta do meu nariz. Fui andando para a parada de ónibus. Chegando lá já muito atrasada para o trabalho resolvi sentar no bloco atrás da parada, em um lugar específico que batia sol e comecei a escutar death cab. Fechei os olhos cansados e secos por Brasília e quando abri você estava ao meu lado. Demos as mãos e não fizemos nada demais, nenhuma euforia mesmo tendo muitas saudades envolvidas. Suas pequeninas mãos me confortaram. Eu dei um fone de ouvido a você e agora éramos duas no lugar quentinho de olhos fechados escutando death cab. Lembrei que logo ali na frente estava nosso colégio que desde pequena dividimos, lembrei de nossos almoços, nossos jogos,nossos amores, nossas amizades, meus dentes aparelhados, seus cabelos desgrenhados, lembrei de tanta coisa e ri sem barulho. Não consegui perceber quando tudo isso se foi, quando foi que você foi embora. Algo se criou perto de nós, estávamos sempre ali uma do lado da outra e a cada dia mais distantes, com mais dúvidas, menos sorrisos, menos olhares e menos músicas no carro. Eu não sei quando foi que soltamos nossas mãos e fomos para a sombra. Lack of color começou a tocar e a primeira vez que ouvi essa música foi com você, naqueles intervalos de pré-vestibular entediantes. Parei de querer saber o porque daquela distância. Não importava, hoje eu te reencontrei. Estávamos no sol de novo, amarelo e colorido. Hoje terminei com essas mentiras mundiais, terminei com o medo de experimentar chocolate amargo, terminei com o passado. Fizemos isso juntas, como amigas que somos e somos e que somos.
Existem feridas estranhas e escuras no meu peito e eu as enxergo no seu também. Mas eu não tenho mais medo, se a gente não enfrenta...
Hoje me descobri uma corajosa ao querer de defender , ao querer berrar e correr com você para longe de tudo isso.
De mãos dadas a gente pula no estranho e quem sabe até acampa lá. Uma mão vai estar segurando a sua na hora do medo a outra mão protegendo seu coração pequena.
Com amor e com superação.

28 de junho de 2008

Escape

Naquela noite notei como você era bonito. Putz cara, você é muito bonito. Seus olhinhos puxados, suas sobrancelhas, as marcas de espinhas nas suas bochechas. Seus dentes afiados, sua boca...Ela merece reticências. Esses olhos de infinito perdido e suas mãos.

Você é tão estranho garoto. Se quem te visse soubesse. Mas não sabem, você é lindo demais para se deixar notar algo a mais. Quando eu conseguia me desipnotizar pela sua beleza eu enfim vi e suas pupilas procurando sempre. Vai porque eu falo demais e você fala demais. Porque você é tão novo e sabe ter uma mulher de um jeito que nunca nenhum homem me teve. Não sei se isso é depressivo e degradante para mim ou se você realmente sabe segurar a mão de uma menina.

Naquele sábado de fim de festa não sei o que aconteceu. Eu estava disposta a fazer você se desencantar por mim, não tenho costume de acreditar em gente que chama muita atenção..

Você falando falando e eu falando falando, God, finally someone who talks. Nínguem disse algo de muito lindo, você não gosta das bandas melancólicas que me fazem viver.Nós dois nos confessamos desencantados com as pessoas.

Ontem parece que a vida real infelizmente choveu. Ao mesmo tempo você precisava falar, e falou tudo pelas metades, da sua agressividade, da sua família que é tão não saudável, de que você ou é louco ou doente , sua descrença de terapia. Metade disso eu deduzi, metade você soltou olhando para o vidro do carro. Falava com um ar de quem pensava: "você não sabe como é". Eu estava tão envolta em tudo isso. Não sei te ajudar garoto, mas me deu vontade de escutar. Esqueci de te agarrar, de ser criativa, esqueci de mim e fiquei em cima do muro tentando te observar.

Não sei se foi a monotonia ou a vodka que fez você me beijar com todo charme do mundo ensaiado mais tarde. Conseguimos ontem encaixar bocas que uau. Sua mordida no meu ombro só foi para confirmar: Escorpiano escorpiano perigo perigo.

Eu te chamei para vir dormir aqui em casa não foi pelo sexo, foi pela sua companhia. Queria tanto ficar abraçada, saber mais de você, olhar seus detalhes no claro.

Coloquei meu pijama, lavei o rosto, escovei os dentes, te emprestei uma calça de moletom preta, te fiz mandar mensagem para seus pais e bebi água. Pronto. Olhei para você. Vi que suas unhas estavam sujas, mas acredite, isso foi fascinante. Nada higiénico, nada sexy mas isso fez com que eu construísse você dentro de mim mas facilmente. Conversamos como loucos novamente. É como se ninguem mais ouvisse a você ou a mim há 4 meses. Meus olhos começaram a piscar lentamente. Apaga a luz? Seus super poderes de um homem sexy me tiraram o sono.

Nunca alguém depois que transou comigo me abraçou do jeito que você me abraçou. Não era carinho de arrepiar, era carinho carinho. Não acreditei que aquela conchinha duraria por muito tempo. Mas durou e quando eu me mexi você se mexeu junto para continuar encostado em mim. Testa com testa uma hora, pé com pé, mãos dadas. Dormi tão bem, tão protegida. Me acordou com uma cara de amassado e após algumas palavras um beijo, dois, três... Falamos de nossas cicatrizes, de camisinhas, do embaraço no cabelo, de eu ser destra.

Estou indo trabalhar.Você está indo embora.
Eu não sei quando te vejo de novo, transei no segundo encontro, não temos o encanto de uma paixão, temos algo tão estranho e apático que me assusta de tão natural e de tão confortante.

Acho que você some desde hoje, vou lembrar.

15 de junho de 2008

Until

Escrevendo fica mais fácil.
Hoje um homem na rua me disse que alegria a gente aumenta e sofrimento a gente compartilha. Essas coisas bregas e piegas caem bem ás vezes. Depois que você foi as coisas não funcionam muito bem por aqui. Os carros estão enferrujando, meus olhos acordam com mais remelas e os gostos dos restaurantes mais gostosos estão vencidos. No trabalho a mesma coisa, acho que é porque por lá é impossível piorar. Meu quarto cheira a tinta forte, e faz dias que pintei,alguns dias depois que você foi. Tentei mudar pelo menos dentro de casa, já que lá fora eu não consigo.
Eu sorrio sim, tenho crises de riso ainda, durmo, sonho que viajo todos os dias. Ontem uma menina me disse que sonhos são só estímulos misturados do sistema nervoso. Meu sistema não está nervoso, ela está confuso, acho que viaja todas as noites pra ver se te acha fora desse país. Eu sei que não acha, mas uma hora a ficha cai para ele também.
Eu não choro mais tanto.Mentira, choro quando fecho os olhos por mais de 2 minutos, mas deixe eles aqui pensarem que nem é mais tanto.
Você me escuta? Quando estou dirigindo e abaixo o som e começo a conversar com você? Falo como me sinto, peço desculpas, falo que te amo que te amo que te amo que te amo e que não sabia que você ia embora.
Eu gostei da sua visita de noite, mas foi ruim sabe? Não que não seja para você não voltar, por favor volta, mas sei que é difícil você aparecer, então quando aparece, eu fico num aperto sabendo que aquilo logo vai acabar. Eu te abracei, te beijei. Foi a primeira vez que você veio e eu já tinha a consciência que você não ia estar sempre por perto, por isso te beijei tanto, te abracei tanto, te cheirei tanto e não falei quase nada, sabe por que? A sua voz.Eu queria escutar sua voz para gravar dentro de mim. O seu cheiro eu ainda encontro nas roupas mas a sua voz não. Antes eu ligava para seu celular e ficava escutando a caixa-postal, mas agora bloquearam seu número, não escuto mais.
Hoje é a primeira vez que durmo em casa depois que você foi. Estou tomando um chá que a tiehimdown me trouxe.
Vou dormir, vê se aparece... I will wait you until I wake.